Por Gabriel Chalita
Todo ser humano é sujeito de aprendizagem. Em
todos os lugares e em todas as etapas da vida, é possível aprender
alguma coisa. A sala de aula não é o único espaço em que a
aprendizagem acontece. Entretanto, é um ambiente privilegiado. O
aluno vai à escola em busca de algo que, muitas vezes, não sabe o
que é, de alguma coisa que preencha o que lhe falta. O fato é que
sempre haverá algo faltando e é por isso que a aprendizagem não se
esgota nunca.
Os alunos vêm de caminhos diferentes. Muitas
vezes, desviam do rumo e é preciso cuidado para reconduzi-los.
Imagine o artista que fará de tudo para restaurar uma obra-prima.
Precisará de habilidade. Se não for assim, correrá o risco de
destruir o que dela restou. É dessa destreza que necessita o
professor na relação com seus alunos, principalmente com aqueles
que tiveram o insucesso de provir de uma família sem amor.
O educador precisa enxergar o aluno e tentar
conhecê-lo. Perguntar-se: quem são meus alunos? O que querem?
Sonham? Se sonham, com o que sonham? Se não sonham, como fazê-los
sonhar?
É difícil imaginar que um professor conheça,
com profundidade, cada um de seus alunos. O tempo é tão pouco para
tanta gente! Mas há fatores que ajudam: dinâmicas de apresentação,
memorização dos nomes, atenção às conversas.
Além disso, o professor tem de evitar qualquer
tipo de preconceito. Certo ano, no início das aulas de uma de minhas
turmas de Direito, um aluno ficou o tempo todo deitado em duas ou
três carteiras, com os olhos fechados e com um boné cobrindo-lhe o
rosto. Os outros estavam atentos e cheios de perguntas. A aula correu
muito bem, mas eu fiquei profundamente incomodado com a postura
daquele aluno.
Na semana seguinte, a cena repetiu-se e, assim que
acabou a aula, eu me dirigi, educadamente, ao aluno. Disse-lhe, longe
dos outros:
– Tiago, não me incomoda o fato de você ficar
deitado na sala. Talvez, você até aprenda melhor assim, não sei.
Minha preocupação é com seu futuro. Uma postura dessas pode fazer
com que algumas portas se fechem em sua vida profissional.
Na semana seguinte, ele não foi de boné nem
ficou deitado. Aos poucos, passou a participar ativamente da aula e,
ao final do ano, fez-me uma confidência, que pode ser considerada um
presente, por qualquer professor:
– O senhor mudou minha vida.
O que esse menino queria, no início, era testar
minha paciência. Ele tinha a certeza de que eu o expulsaria da sala
de aula. Nunca fiz isso, em todos estes anos de magistério. O máximo
foi sugerir que algum aluno desse uma volta, falasse fora da sala o
que estivesse ávido por dizer, tomasse um copo de água e voltasse
calmamente. Aqui vai outra questão fundamental: coerência. Um
educador não pode ser mal-educado.
É necessário saber utilizar o poder da palavra
para realizar o milagre da transformação. O aluno deve ser motivado
a aprender. É assim desde Sócrates, que comparava a educação à
arte da parturição. A criança necessita de um impulso para nascer.
O professor não deve desprezar as ideias que seus alunos levam
consigo para a sala de aula. Elas estão ali, esperando alguém que
seja capaz de lapidá-las. E, com gentileza, tudo fica mais fácil,
porque o ser humano torna-se dócil frente a ela. Suas resistências
caem e seus medos desaparecem, pois do outro lado há uma pessoa que
só quer o bem.
Já se provou que os métodos arbitrários,
violentos, não educam. Quando muito, adestram. E adestrar o ser
humano, condicioná-lo a obedecer por medo, é reduzir sua estatura
intelectual e emocional.
A tranquila confirmação poética é de Cora
Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que
ensina”.
Matéria publicada na edição de abril da
revista Profissão Mestre.
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